quinta-feira, 18 de novembro de 2010

02 de Novembro


No cemitério lotado rezei pelos meus
E audaciosamente pisei a morte,
A morte de desconhecidos.

Todos pisavam!

Por entre túmulos, imponentes,
Jaziam os corpos humildes pisados
Apenas areia e uma cruz desgastada pelo tempo ao centro como sinal
Não se podia ler nada,
Não havia imagem sequer (luxo?)
Uma morte esquecida pelo tempo

Possivelmente uma vida dura, sofrida
Carregou nas costas um fardo
Talvez a vida fosse o fardo
Mas e depois da morte, liberdade?
Engano.
Agora carregava nos ombros mortos
O peso de vidas que passavam indiferentes.

Quanta injustiça!
Chamem as carpideiras,,
Celebrem missas em homenagem
Já sinto o odor dos bogaris vicejantes

Que as mortes esquecidas sejam lembradas, ao menos hoje.

O capturador de almas


(Uma história real)
            Fui atraída por uma hipnotizante melodia que me arrancou do aconchego dos Jardins. Era incompreensível, mas me deixei levar, algo inexplicável que só entenderia depois me chamava.
            Peregrinei dias pelo Grande Rio até chegar à Cidade do Sol. Sabia que estava no lugar certo, a música era cada vez mais intensa, já dominava meu corpo. Tomei de um trago a bebida, antes que o sol me devorasse. Me deixei levar, estava vulnerável, ébria, pronta a sucumbir.
            Pedi ajuda. Alguém que passava se aproveitou do meu estado. Ele capturava almas errantes, levou a minha. Como poderia viver sem minha alma? Gritei, corri, desesperei... em vão! Senti então um bafo quente na nuca, era ele. Correr, fugir? Pra quê? De nada valia um corpo sem alma. A carne fede, a alma é a pura essência, conserva.
            Me fiz forte, resolvi encarar. Estremeci. Mas que surpresa, como era suave aquele rosto, quanta paz transparecia. Ele me disse então que não era algoz, mas guardião. Viera de terras muito distantes, esperava há um tempo minha alma, era sua missão protegê-la. Ele falava e fui embalada pelo som de sua voz, aquele som familiar...
            Que generoso olhar, me conduzia cada vez mais pra perto. Nossos lábios se tocaram. Como era doce! Suguei aquele néctar até a última gota, a alma dele veio junto. Encostamos nossos corpos, então nossas almas, trocadas, se fundiram. Não dava mais pra saber quem éramos individualmente. Desde esse dia que nos conhecem por Nós.

O sorriso da Lua


(A Tibúrcio pela genial ideia)
Hoje a Lua estampou no céu
Um glorioso semicírculo de luz.
Efusivamente brilhou,
Roubou para si o posto de dama da noite.
A Lua estrela no palco da noite.

Como toda bela mulher,
Ostentou às outras (Estrelas, Terra, Nuvens)
Todo o seu encantamento.

Deixou-as todas invejosas
De forma tal que as Estrelas apagaram-se,
A Terra ofuscou-se com tamanho brilho
E as Nuvens, intimidadas, foram embora.

Mais tarde descobriram
Que o exuberante brilho da Lua naquele dia fora presente do Sol amante
Que não resistira àquele largo SORRISO
                                             A             M
                                                 S       I
                                                      S

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fome


Esse seu suor noturno
De corpo que não dorme
Mesa posta a me servir

Vem, sacie minha fome
De animal da noite
Esperando a lua/ceia

Não subestime meu desejo,
Quero banquete dos deuses
Doce branca ambrosia

E se bem alimentada for
De todos os mimos e regalos
Ah... sempre vou voltar!