quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O capturador de almas


(Uma história real)
            Fui atraída por uma hipnotizante melodia que me arrancou do aconchego dos Jardins. Era incompreensível, mas me deixei levar, algo inexplicável que só entenderia depois me chamava.
            Peregrinei dias pelo Grande Rio até chegar à Cidade do Sol. Sabia que estava no lugar certo, a música era cada vez mais intensa, já dominava meu corpo. Tomei de um trago a bebida, antes que o sol me devorasse. Me deixei levar, estava vulnerável, ébria, pronta a sucumbir.
            Pedi ajuda. Alguém que passava se aproveitou do meu estado. Ele capturava almas errantes, levou a minha. Como poderia viver sem minha alma? Gritei, corri, desesperei... em vão! Senti então um bafo quente na nuca, era ele. Correr, fugir? Pra quê? De nada valia um corpo sem alma. A carne fede, a alma é a pura essência, conserva.
            Me fiz forte, resolvi encarar. Estremeci. Mas que surpresa, como era suave aquele rosto, quanta paz transparecia. Ele me disse então que não era algoz, mas guardião. Viera de terras muito distantes, esperava há um tempo minha alma, era sua missão protegê-la. Ele falava e fui embalada pelo som de sua voz, aquele som familiar...
            Que generoso olhar, me conduzia cada vez mais pra perto. Nossos lábios se tocaram. Como era doce! Suguei aquele néctar até a última gota, a alma dele veio junto. Encostamos nossos corpos, então nossas almas, trocadas, se fundiram. Não dava mais pra saber quem éramos individualmente. Desde esse dia que nos conhecem por Nós.

Um comentário:

  1. nossa! fabuloso, eu adoro quando estou certo, e sempre estive certo a respeito do seu talento ...

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